A força invencível que impulsiona o mundo não são os amores felizes, mas sim os contrariados – bem disse Garcia Márquez em outras palavras do seu “Memórias de Minhas Putas Tristes”.
Eu, que sei pouco e que pari este filme duma observância ligeira, descobri que o tempo é o que poderia me ditar a história. Mas não o tempo do senso-comum, o tempo fortuito e do acaso, e sim o tempo-imagem, o tempo que se pode esculpir. Dos amores contrariados, dissolvidos, visualizei a fábula. Nasceu junto com a imagem de São-Felix-Cachoeira, a ponte e seus lampejos noturnos, o silêncio da madrugada, o apito do trem, a música, a eterna música fabricada no sonho, no inconsciente do Recôncavo Negro e Tropical.
A memória, objeto do meu estudo fílmico, aflora também neste filme. Os fluxos, as elipses, o ritmo pausado, as sobreposições, as imagens-poemas, tudo é janela para livre interpretação. Em A Eternidade os signos estão impressos, expostos, vivos. Matéria pra pensar, pra sentir. Ecos de reverberação da angústia, candeias da melancolia, tons da fome e do desespero, luz, luz do amor e da sorte.
Chora o clarinete, devaneia o coração. É ela, acesa na noite, ligeira na água, companheira no vício, generosa na falta, é ela, encontrada em Rimbaud, emancipada em Eliot, reiventada por nós, é ela. O instante, o longo, o vivo, o morto, o terreno, o espírito, tudo cabe nela. O preto, o branco, o amarelo, o colorido. A eternidade é colorida, e a razão para ser se nutre do branco, que representa a unidade do tempo, e que dissolvido tem em seu espectro a palheta do mundo, de cores e de sensações. É a partir desta breve reflexão que convido-os para ver e ouvir, fruir ao encontro de A Eternidade.